Me interessei por fotografia nos tempos de faculdade quando me apossei da Pentax que meu irmão tinha jogado pra escanteio depois de mandar restaurá-la e usar meia dúzia de vezes. Me apaixonei pela bolsa velha cheirando a mofo que carregava aquela máquina pesada, alguns filtros e muita história. Foi ela que me acompanhou nas minhas primeiras aulas quando ainda se discutia os avanços e o futuro da fotografia digital. Assim como eu, todos os alunos da turma possuíam câmeras analógicas. O ano era 1999, meu primeiro na faculdade (vamos evitar fazer as contas, ok?).
Passei um período brincando de montar e manusear minha própria câmera pinhole, desenvolvi projetos em slide, aprendi sobre velocidade, diafragma, ISO, enquadramento… Matei muita aula para passar a tarde enfurnada no laboratório fotográfico da “galerinha de desenho”, que era bem mais interessante do que o nosso, do curso de comunicação. Imagina se algum aspirante a publicitário ia perder tempo revelando e ampliando fotografias em preto e branco quando eles podiam gozar de um recém inaugurado laboratório de macintosh?! (Lembrem-se, estamos falando de 1999!)
O tempo passou e meu caso de amor com a fotografia seguiu como seguem os romances da juventude: hora intenso, hora ofuscado por alguma outra paixão fugaz. Mas entre idas e vindas, eu nunca o abandonei. Uma vez formada e atordoada com o mercado de trabalho me dei de presente um curso despretensioso na tentativa de dar uma energizada no espírito. Mas o tempo havia passado e eu agora era a única na turma que ainda não tinha me rendido ao mundo digital. Enquanto o professor falava em “P”, “AV” e “TV”, eu seguia às voltas com o marcador do fotômetro que subia e descia no visor da minha velhinha. Percebi que era hora de seguir em frente. Gastei meus últimos rolos de filme e guardei a Pentax na bolsa velha cheirando a mofo.
Nunca mais a vi, deve estar esquecida em algum armário na casa da minha mãe. Lá se foram mais de dez anos (voando), o mundo digital se apoderou de mim – e de todos – e a vida seguiu. Hoje tenho câmeras DSLR, GoPro, cartões de memória, tripés, lentes, filtros… E também ando investindo meu tempo mais em vídeos do que em fotografia, como vocês já devem ter percebido assistindo ao “A Culpa é do Fuso”.
Porém, volta e meia me pego brincando com as minhas câmeras lomo e sentindo de novo aquele velho e familiar gostinho da fotografia analógica. O resultado agora é bem mais experimental, claro, e de um rolo inteiro de filme muita coisa vai direto pro lixo. Mas muitas vezes é bom demais trocar toda a parafernália tecnológica por algumas câmeras de plástico coloridas. O resultado é sempre muito divertido e imprevisível.
(Foto: André Garcia / Bangkok. Câmera: Diana Mini)
Estou contando toda essa novela porque, volta e meia, pessoas que assistem à websérie me questionam sobre os nossos equipamentos. Entendo todas as dúvidas como ninguém, sei bem como é difícil escolher a câmera certa quando há tanta grana em jogo. Mas, como também levei muitos anos pra conseguir comprar a Canon e a GoPro que uso hoje em dia, sugiro a vocês que não deixem a falta do equipamento “x” ou “y” limitar a sua criatividade na hora de registrar as experiências únicas da sua viagem. Se não há como investir agora naquela câmera que você sempre sonhou ou naquela lente super cara que você preciiiiisa ter, pense em outras formas divertidas de deixar tudinho registrado sem ir à falência!
Aposto que o seu smartphone faz belas fotos e vídeos de boa qualidade. Às vezes, a graça pode estar na forma que você encontra para expor esses registros! Que tal um álbum criado só com fotos da sua viagem que você postou no instagram? Esse aí do link pode ser encomendado online, mas é possível criar um igualzinho você mesmo gastando muito pouco!
Se a fotografia não é o seu forte, porque não investir um tempo em escrever suas memórias? Que tal mandar cartas a si mesmo durante a sua próxima viagem, relatando suas aventuras na estrada? Na volta, basta reunir todas e formar um diário de viagem diferente. Olha só quantos exemplos lindos existem no Pinterest para você se inspirar! Resumindo, seja criativo e invente uma maneira – a sua maneira – de contar essa história. Às vezes, é justamente a limitação técnica que abre espaço para a criatividade fluir!
Então? Tá esperando o que pra começar a contar a sua aventura?